terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Vamos lá então falar nisto

Antes de dizer o que quer que seja, e não obstante o que possa vir a ser dito, quem, ao ler isto, não vê mau gosto, descriminação, falta de educação, desrespeito ou simplesmente estupidez e mau jornalismo, tenho a informar que sofre de problemas de visão piores do que a senhora mencionada na notícia.

Ainda que lamentando, eu consigo no entanto compreender que se fale nesta questão.

Há alguma relevância na etnia, sexo, cor, raça, tendência sexual, religião ou características físicas, no desempenho de cargos políticos? Não! Absolutamente nenhuma.

Relevância há no curriculum, académico e profissional, das pessoas. E nas suas competências. Isso sim.

Ainda assim, e porque é típico no ser humano comentar aquilo que lhe é estranho, não defendo que tenham de ignorar o elefante no meio da sala.

Ah que nunca houve um ministro de origens africanas. Ok. E uma invisual a desempenhar funções no governo. Ok.

Mas vamos cá clarificar um coisa, rotular é mau, ponto.
Não há mas nem meio mas. Não se rotulam pessoas, seja porque razão for!
Posto isto, resta clarificar que falar no assunto, no elefante no meio da sala, não é o mesmo que rotular as pessoas.

Querem dizer que, pela primeira vez há um ministro com origens africanas, ok digam. Que há uma pessoa de etnia cigana e uma cega no governo, tudo bem, se sentem mesmo necessidade de o fazer, façam.

Eu não tenho essa necessidade, não vejo a importância ou relevância dessa "diferença". A única que me poderia ocorrer comentar seria a da Ana Sofia Antunes que, por ser cega e presidente da Acapo, terá seguramente mais percepção da exclusão social e dificuldades de integração das pessoas com deficiências no nosso país.

No entanto, saliento também desde já que a relevância que (não) atribuo a estas "diferenças" também valem caso queira tecer criticas ao desempenho das pessoas em questão.

Se considerar que estão a tomar medidas erradas ou a fazer um mau trabalho não me coibirei de o dizer, nem tão pouco me sentirei melindrada por eles serem "diferentes", dado que não acredito que esse mau desempenho, a acontecer, tivesse alguma coisa a ver com a cor ou deficiência de que padeçam.

O busílis da questão, para quem não vê o mal que é referir as "diferenças" das pessoas em questão, reside precisamente na maneira como a coisa é feita.

Esta capa do CM é nojenta e extremamente ofensiva. Já nem me choca muito, dada a origem, porque para mim o CM é um pasquim com procedimentos indizíveis (ver post anterior, se dúvidas houverem). Mas não foi só o CM, vi noutros jornais, dignos do nome, referências menos próprias, que simplesmente rotulavam as pessoas.

Novamente, vou tentar explicar a diferença. Uma coisa é publicar uma noticia com este titulo. Não acho que seja ofensivo. Outra, bem diferente para mim, é dizerem (creio ter sido o Jornal Económico) "...um Economista, um Sociólogo uma Jurista cega", isto é só parvo e discriminatório. Não é o dizer que a senhora e cega que é mau, é fazerem como se isso tivesse alguma relevância para o caso ou fosse uma extensão das competências da pessoa. Não é!

E desculpem lá, mas não creio que seja complicado perceber isto. E não, ninguém se está a fazer de calimero. As pessoas só não querem é ser rotuladas.

Se nunca disse a Economista badocha ou o Gestor careca, porque hei-de agora dizer a Jurista cega??!!
É só isso.

Um grande bem haja a quem aguentou ler o post até ao fim, soides uns corajosos :)

2 comentários:

  1. Do CM espera-se tudo o que tenha o carimbo de mau.
    Com aquele título, o tal que fez estalar o verniz, os (ir)responsáveis do pasquim dirigido pelo escabroso Octávio Ribeiro, mostraram o que são, umas bestas.
    O Jornal de Negócios fez quase o mesmo. Só que o quase cria, desde logo, uma diferença.

    Fui corajoso? Quero um prémio :)

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    1. Sim, ninguém foi tão mau como o CM, nunca o são. Aquilo é um insulto ao jornalismo.
      O prémio é a coragem em si e o reconhecimento da mesma ;)

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