sábado, 15 de outubro de 2011

O verdadeiro problema...

Ora bem, felizmente e até novos desenvolvimentos (que esperemos que nunca venham a dar-se), não vou ser afectada pelos cortes nos subsídios. Mas consigo meter-me nos sapatos de quem o vai perder. Acho mal, muito mal.

Sim, é verdade que o país está na fossa e que é necessário tomar verdadeiras medidas de austeridade, é sim senhora. Mas não deixa de ser extremamente penalizador para as pessoas.

Mas, de facto, não o deveria ser. Passo a explicar,

Em bom rigor, o verdadeiro problema reside nos maus ordenados que se praticam em Portugal. Concordo que os subsídios de férias e de natal, se existem, deveriam ter um carácter complementar, em última análise, o seu fim deveria fazer jus ao seu nome.
Deveria ser um rendimento extra para irmos de férias e perdermos a cabeça nas compras de natal (se isto faz sentido já são outros quinhentos).

O problema é que, efectivamente, os salários em Portugal são baixíssimos. Ganhamos mal, pelo menos a maioria da população. E a tendência ao longo dos anos tem sido baixar cada vez mais, factor que se deve especialmente ao excesso de oferta de mão de obra, especialmente a qualificada. É o modelo básico da oferta VS procura, quando a primeira excede em larga escala a segunda o resultado é sempre o mesmo...

Face a esta realidade, a única solução da população é canalizar os ditos subsídios excepcionais para pagamento de despesas correntes. Facto que se verifica na perfeição na nova modalidade de pagamento, cada vez mais disseminada, de ordenados mensais com percentuais. Este efeito cria nas pessoas uma sensação de melhor salário, quando na realidade continuam a ganhar uma merda. E as pessoas adaptam a sua vidinha e as suas despesas a esse ordenado, muitas das vezes porque não há outra opção, pelo menos se querem viver com a mínima dignidade, noutros casos não será bem assim...mas isso já são contas de outro rosário.

Quando de repente se vêem privadas desse extra, para muitos, isso pode constituir um grave problema. Pode representar uma incapacidade de fazer frente às despesas correntes que todos nós temos, casa, carro, infantários, livros da escola, impostos, despesas de saúde, seguros, gás, água, luz, compras de supermercado...and so on.

Se os ordenados em Portugal fossem decentes, esses rendimentos extra, que são os subsídios, não teriam impacto directo no orçamento das famílias. Como tal, qualquer agregado familiar, ainda que não desse pulinhos de alegria por se ver privado dos seus subsídios, também não ficaria desesperado por não os receber. Ok, não fariam as férias a que estavam habituados, no natal não comprariam as prendinhas luxuosas a que estavam acostumados, mas olha paciência...em tempos de austeridade há sacrifícios que se podem fazer sem vir grande mal ao mundo, o que não podem é deixar de conseguir pagar as contas e passar fome.

Antes de mais, temos sempre de nos lembrar que vivemos num país onde o ordenado mínimo, auferido por muitos, demasiados, é de € 485,00.

Além de que, um ordenado acima dos € 1.000,00 não é necessariamente uma fortuna, especialmente se não tivermos em conta a dimensão e rendimento do agregado familiar.
Seguramente para um FP que ganhe € 1.100,00 mas que tenha um cônjuge que ganhe € 5.000,00, receber ou não o subsidio é capaz de ser irrelevante, no entanto, para outro funcionário que ganhe o mesmo mas cujo cônjuge aufira uns míseros € 485,00 e tenha 1 filho para criar, seguramente, o efeito não será o mesmo.

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